Educação e Cultura

OTELO, O OUTRO: Teatro para estudantes do Ensino Médio

Votação Encerrada
Tivemos milhares de projetos incríveis, todos com potencial para gerar um impacto inimaginável! Clique aqui e conheça os 22 finalistas que avançaram para próxima fase.
Despertar Empreendedor
Participe do maior evento presencial de empreendedorismo já feito no brasil
Conheça os detalhes

Descrição do Projeto

“Nossa vida é vilipendiada e as pessoas muitas vezes se sentem confortáveis em nos violentar…”
Maria Nilza, professora

“Nossa vida é vilipendiada e as pessoas muitas vezes se sentem confortáveis em nos violentar…”
Maria Nilza, professora

As recentes políticas públicas de cotas ampliaram, para expressiva parcela da sociedade brasileira, o acesso ao ensino superior. Parcela historicamente excluída da riqueza e de outros tantos serviços do Estado brasileiro. Estamos assistindo emergir agora, em função disso, uma juventude preta letrada e atuante na luta contra injustiças históricas. Aliadas a este fator, a massificação dos smartphones a partir dos anos 1990 e sua consequente transformação nos modos como a comunicação interpessoal passou a se dar, junto com a proliferação das redes sociais a partir de 2013, favoreceram narrativas não hegemônicas que passaram a confrontar o monopólio dos grandes conglomerados de comunicação, que dominaram o imaginário e a produção de sentidos durante décadas. Essa mudança tem feito com que matérias caras à população negra estejam em pauta nos veículos de comunicação de massa: racismo, violências física e simbólica contra os corpos negros, desigualdade social agravada pela intersecção raça-classe-gênero e a integração do negro na sociedade ao longo da história deste país. Temas estes que são o foco central em nossa montagem de “Otelo, o outro”.
Livremente inspirado na tragédia “Otelo, o mouro de Veneza”, de William Shakespeare, “Otelo, o outro” é uma reflexão poética sobre as ambiguidades e angústias do homem negro numa sociedade como a brasileira. Submetido a um tratamento clínico, nosso Otelo descobre um si mesmo difuso, múltiplo, fragmentado e contraditório, quando não cínico, cruel e perverso. Oscilando entre ternura, dor e ódio, ele constata seu deslocamento numa sociedade à qual quer se integrar e que dele se serve, mas que sempre o vê e o trata como um estranho.
As temáticas suscitadas pela peça, portanto, vêm ao encontro dos anseios de uma juventude ávida por referenciais simbólicos e pela solução das mazelas sociais do país. A linguagem cênica, assinada pelo premiado encenador teatral Miguel Rocha, e os tocantes depoimentos presentes no texto, inspirados em histórias reais, conferem a “Otelo, o outro” a condição de obra pra poder pensar o negro de amanhã como testemunhou um dos espectadores numa das conversas com o público após as apresentações. Ou ainda: Eu vejo a magnitude do homem preto nesse trabalho. São afirmações que dão conta da gigantesca responsabilidade social que assumimos ante aqueles que continuam no topo das estatísticas quando o assunto é violência. Não existe nada mais perigoso no Brasil do que ser um jovem negro.. A pele negra principalmente a masculina segue sendo o alvo preferencial inclusive das balas perdidas, que quase sempre acham um corpo negro.
A percepção tragicamente subjetiva dessa violência manifestou-se numa das devolutivas de estudantes que assistiram ao nosso espetáculo, elaborando e humanizando a constatação dessa violência estrutural detectada pelas estatísticas:

“Um exemplo marcante foi a representação [na peça] de um homem negro sendo abordado de maneira agressiva e injustificada por dois policiais. Uma situação semelhante aconteceu com meu pai, quando fomos parados por dois policiais brancos em uma avenida. No carro estava eu, meu pai, minha mãe e minha irmã. Os policiais faziam perguntas sem sentido algum. Nesse episódio eu me senti impotente. Fiquei triste, porque eu simplesmente não podia fazer nada, até porque eles são autoridades. Tem mais voz do que nós. Fiquei revoltada. Até quando passaríamos por coisas assim?”
(Ana Flávia, estudante do ensino médio).

Acreditamos que uma das principais virtudes deste espetáculo é o de permitir à plateia sobretudo a negra elaborar inclusive os afetos que lhe são sonegados, como a indignação e o ódio. Historicamente, a elite branca sempre temeu a fúria da massa escravizada, na América portuguesa e no Império, e da maioria pobre majoritariamente preta. Também historicamente, homens e mulheres de pele escura sempre foram ensinados(as) a reprimir sua revolta, limitando-se a sorrir amarelo em situações interpessoais de humilhação ou de depreciação racista, ou contentando-se com cada vez menos, quando se trata de horizonte político. Numa das falas talvez mais contundentes da peça, ouve-se: Se a gente perde o medo, ninguém segura a gente. Se existe, pois, uma justificativa maior para a realização deste projeto, certamente ela há de ser esta: perder o medo. O medo por simplesmente estar vivo.
Acreditamos que “Otelo, o outro” promova, dentro de suas possibilidades, a cultura negra, a valorização e o fortalecimento da imagem e da história desta população como ferramenta para o enfrentamento ao preconceito e à discriminação. Mas, sobretudo, cremos no poder de sua estesia, isto é, da comoção estética que provoca, nos fazendo rever a própria realidade e quiçá imaginar outra.

A|lém da apresentação do espetáculo “Otelo, o outro”, o projeto prevê a realização de oficina de teatro e , escrita criativa e de rodas de conversa entre os membros da equipe artística e público.

Impacto Positivo

"Uma das usuárias [do CAPS] presentes em um dos dias é uma jovem mulher negra que tem sofrido por questões de saúde mental impactadas diretamente pelo racismo, e a peça foi importantíssima para o seu processo de construção de autoimagem e autoamor que estamos trabalhando." Isabelly Brasil, mediadora do Centro de Atenção Psicossocial Vila Prudente (São Paulo, SP) "Gostei muito da peça, de início ao ver os personagens só com as calças vermelhas e aquele nó com cordas no fundo, dando a ideia de sangue correndo da veia, que tudo estava entrelaçado me despertou uma certa tensão, sentimento de que algo ruim poderia acontecer, mas quando vestiram o terno colorido, já comecei a pensar diferente. As falas dos personagens com tom de revolta, como: ;beiços para fazer feijoada; e entre outras revelava um semblante performático nos personagens e muitas falas repetidas dando enfoque ao fato que estava acontecendo ali na peça. A seleção dos personagens foi muito bem feita, achei uma ótima interpretação, a escolha de pessoas negras para exaltar o seu lugar de fala. Ampliou o meu olhar, em relação a todo sofrimento e todo preconceito existente ainda hoje, tanto em abordagens policiais, quanto ao ingressar em uma faculdade através de cotas e no mercado de trabalho. Contribui em minha formação, de modo que fez eu refletir, sobre como abordar o tema em sala de aula. No início da peça já começa com a reflexão: 'Qual o seu nome?', permitindo a plateia pensar que estão em busca de uma identidade, e quando aparece um santo de uma religião de matriz africana e a citação de diversos sobrenomes isso fica ainda mais evidente. O que mais me marcou foi o final, em que diz o seguinte: 'Tudo nesse país é através da violência'." Mariana Tomás dos Anjos, 21 "Um exemplo marcante foi a representação [na peça] de um homem negro sendo abordado de maneira agressiva e injustificada por dois policiais. Uma situação semelhante aconteceu com meu pai, quando fomos parados por dois policiais brancos em uma avenida. No carro estava eu, meu pai, minha mãe e minha irmã. Os policiais faziam perguntas sem sentido algum. Nesse episódio eu me senti impotente. Fiquei triste, porque eu simplesmente não podia fazer nada, até porque eles são autoridades. Tem mais voz do que nós. Fiquei revoltada. Até quando passaríamos por coisas assim?" Ana Flávia, estudante do ensino médio "A crítica não só social mas também cultural que a peça trouxe é muito importante, principalmente nos dias de hoje. E as cenas em que começaram a recitar os nomes de diversas pessoas ao mesmo tempo... e a covardia policial... foram extremamente impactantes. Reginaldo Nathan David dos Santos, 21 "A peça apresenta muita grandiosidade e riqueza em sua construção, fica visível o cuidado em todos os elementos constituintes da obra , achei muito tocante a forma como eles trouxeram com ainda mais emergência, temáticas tão atuais, a composição artística traz muitos simbolismos nas materialidades expostas, as luzes, figurinos, cenários e os textos corroboraram para um impacto como um todo. A saída pedagógica faz diálogo direto com aquilo que estamos discutindo em aula, portanto foi muito significativo imergir na linguagem teatral, pra também se discutir os clássicos, todo ambiente do centro cultural se alia pra essa construção de sentido, seja pelas demais exposições apresentadas, a arquitetura e a recepção em sua totalidade, fora que a temática apresentada pela peça me fez refletir ainda mais sobre as estruturas da nossa sociedade." Ryan da Silva, 21 "A peça aborda de forma interessante a questão da identidade negra. Inicia com Otelo e sua história, mas em dado momento parece que estamos olhando para as notícias dos telejornais. Algo que me chamou muita atenção foi a obra ser datada de 1603 e ainda assim nos dizer muito enquanto sociedade e luta. Acredito que você sair de um espaço cultural e ficar pensando e pesquisando as referências e em como abordar isso em aula é a maior contribuição para a formação de um professor. A peça me abriu os olhos... Camilla Oliveira Osti, 21 A peça reverberou grandemente entre os alunos, assim como entre os professores. Grandes reflexões. Tudo muito potente: encenação ácida e mordaz, figurino bafônico, cenário incrível, luz espetacular, trilha devastadora, muita beleza e poesia! Contribuiu para ampliação do repertório dos meninos, além das diversas possibilidades de intersecção com os saberes prévios. Luciana Fernanda de Moreira Martins, professora na EMEF Dr. José Dias da Silveira Nossos alunos ficaram emocionados com o conteúdo e admiraram toda a produção, especialmente a sintonia entre os atores. Alguns comentaram como estão distantes do teatro. Não faz parte da rotina da maioria. Esse foi um dos tópicos que discutimos: como o teatro ainda representa uma forma de arte da elite, embora tenhamos tantos eventos gratuitos e espaços públicos. Além disso, apresentamos a obra de Shakespeare para quem não conhecia e buscamos estabelecer relações, com base nas informações do material de divulgação de vocês. O debate seguiu pelas questões de racismo incitadas pela peça, para reflexões sobre a atualidade do assunto e a necessidade de ação para combater tais práticas desumanas. Incluímos alguns aspectos das teorias de Frantz Fannon e de Bell Hoocks. Por fim, analisamos em conjunto a canção "Ismália", de Emicida, para trazer mais uma leitura intertextual e incluímos a discussão no tema da consciência negra, destacada neste mês. Michelle Rubiane da Rocha Laranja, professora do IFSP, campus São Paulo "Me chamo Marisa e sou professora em uma escola pública de Barueri (ensino médio/técnico). Gostaria de obter informações sobre como posso agendar a idade de grupos de alunos para assistir a apresentação de "Otelo, o outro" que acontecerão no período da tarde." Marisa Alves de Souza, professora na Fundação Instituto Educação de Barueri Unidade ITB Prof. Brasílio Flores de Azevedo. A peça fez a utilização de anacronismos, podendo ser com o objetivo de perceber as diferenças entre ficção e realidade, como também passado x presente. Os anacronismos, presentes em discursos neoliberais raciais e a presença de Orixás, pode ser compreendido também como a forma dos discursos se criticarem e de se contrapor. Elementos como as calças e as cordas no figurino relacionam-se com a escravidão, assim como os plásticos na peça, que demonstram como o Sujeito Negro é um 'boneco' do Sujeito Branco, mas que também não fura a sua própria bolha, não sendo capaz de se ver fora do olhar colonial branco europeu, trabalhar os diferentes processos no olhar decolonial para as artes e seus modos de atravessar diversas linguagens." Caio Felipe Costa de Domenico, 21 "Gostei muito da peça, apesar de ter sentido certo incômodo talvez pela força das falas e os significados das palavras, afinal é um tema seríssimo e a crítica vem pra incomodar mesmo. Gostei da escolha de atores, o enredo sempre alternando entre presente e passado preenchendo lacunas na história, os monólogos importantíssimos e que ressaltaram as críticas com relatos muito bem interpretados, a escolha das roupas em cores diferentes mas quase a mesma vestimenta, gostei da maneira sensata que essa denúncia foi feita dentro da peça. Aprecio a iniciativa dos professores em nos levarem a novos espaços a fim de ampliar uma discussão que seria muito mais rasa se fosse feita em sala de aula, é inspirador. Neste caso posso afirmar que possuo uma nova visão a respeito da luta racial, ancestralidade, violência policial e a necessidade de romper esse ciclo de violências." Ana Beatriz Couto Fernandes, 21 "Vejo que a peça pode transpor nos personagens uma ideia de algo fragmentado, e também distorcido. Digo distorcido, por exemplo, pois aquelas telas em que eles ficavam atrás em alguns momentos revelam-se fragmentos que compunham aquela imagem, uma distorção de personalidades. A peça teatral já tem o título de 'Otelo, o Outro', e esse 'Outro' parece assumir diferentes concepções baseadas num ideal epistemológico colonizador. Os personagens pareciam ter a mesma 'outridade' (KILOMBA, 2019), nesse caso Otelo, que é sujeitado a imagem de um tirano, de um selvagem. Como a escritora e psicóloga Grada Kilomba retrata em seu livro 'Memórias da Plantação', esse Outro acaba por coincidir com a ameaça, o perigo, o violento, o excitante e também o sujo, mas desejável, o que permite à branquitude olhar para si como moralmente ideal, decente, civilizada e majestosamente generosa. A peça interpreta a obra em contraste com a modernidade atual, uma leitura considerada clássica que nos atravessa diante da problemática da identidade negra. Essas saídas pedagógicas além de grandes aprendizados, nos permitem buscar recursos que integram nossas práticas. Como docentes devemos sempre estar atentos às diferentes linguagens que podem compor o ensino, afim de aproximar educadores e educandos a uma aventura no mundo literário." Marcelo Ferreira de Sousa, 25 Os alunos gostaram bastante da peça. Eles são uma turma majoritariamente preta e, portanto, se faz importante discutir as questões da pretitude. E a peça veio totalmente ao encontro desses anseios. Eles participaram da conversa ao final da apresentação, colocando seus pontos de vista. Eles são bem participativos. O que ficou reverberando para eles é como lidar com as questões da produção de cenas que denunciem e dialoguem com as violências sofridas pela população preta? Acho uma grande questão que também me faço como docente. Parabéns mais uma vez pela peça e que ela tenha vida longa! Evoé! Simone Evaristo, professora do Senac, unidade Santana.

Representante

KENAN DA SILVA BERNARDES

Categoria

Educação e Cultura

Entretenimento (eventos, música, arte)

Busque um projeto participante