O que será?
Editora especializada em audiolivros entendidos como a vocalização de obras (nacionais ou traduções) já escritas ou encomendadas. Vocalização com rigor e alta qualidade, em gravações de áudio, incluindo encomendas de obras criadas diretamente para essa modalidade. Entende-se por rigor o respeito à integridade da obra, e por alta qualidade a excelência da captação do som e da curadoria da gravação, tornando a experiência de ouvi-la não só um atendimento à demanda por praticidade, mas também e sobretudo um prazer.
Compreende-se que a edição do audiolivro é, basicamente, um trabalho de curadoria que mobilize os melhores recursos humanos, técnicos e artísticos para garantir a excelência do produto: eleição e/ou encomenda das obras a vocalizar, seleção de pessoas adequadas à vocalização da obra (tom de voz, empostação, pronúncia, enunciação criativa), adequação da moldura sonora (eventuais efeitos e vinhetas sonoros, trilha musical), direção artística geral, apuro técnico na edição da gravação. Não se trata, portanto, de emular o podcast, mas de encontrar uma forma própria de vocalizar obras que foram escritas para serem lidas em livros impressos ou telas.
A pulverização dos conteúdos em suportes variados, sobretudo aqueles acessados por dispositivos eletrônicos, é uma realidade irreversível e tende a conviver cada vez mais com a mídia impressa e outros meios pelos quais os textos circulam (xérox, PDF, e-book, página eletrônica). Daí a ideia de criar uma editora de audiolivros.
Por que Matraca?
ma.tra.ca. substantivo feminino. Instrumento de percussão constituído por tabuinhas móveis que, agitadas, produzem uma série de estalidos secos. Instrumento de madeira formado por peças articuladas (uma das quais semelhante a um pequeno martelo) que, ao se chocarem, produzem um som seco. (Usado na Igreja católica, na Semana Santa, quando não é permitido o toque de campainha durante atos litúrgicos.) Brinquedo infantil que imita o som da matraca. [Figurado] Pessoa que fala sem cessar; tagarela. Voz de matraca, voz aguda, de timbre desagradável.
Como se vê acima, numa definição de dicionário, o substantivo remete à loquacidade, à tagarelice, à estridência. É também um instrumento de percussão o que vincula a editora ao som, ainda que, neste caso, seco, áspero, metálico, em oposição e substituição aos sinos (na liturgia católica). Isso corresponde ao espírito da editora. Mas é também uma espécie de programa, de propósito, de norte: destacar-se nessa algaravia de vozes e falas do mundo contemporâneo com sua sonoridade rascante.
Como a Matraca pretende se diferenciar?
Essa editora de audiolivros optará pelo tom crítico, debochado, radical, irreverente, experimental, ácido, rebelde, publicando obras ficcionais e não-ficcionais visando o público leitor e/ou ouvinte aberto à provocação do pensamento instigante, à invenção, ao questionamento de convenções e dogmas, ao deslocamento e à expansão da subjetividade. Contemplará literatura (poesia, conto, novela, romance, memória) e ensaio (Filosofia, Antropologia, Sociologia, História, Psicanálise, Teoria da Literatura e Ciência Política). Gostaríamos de inauguar a editora com quatro textos clássicos da provocação: o “Discurso da Servidão Voluntária”, de Étienne de la Boétie; o “Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels; ” O Direito à Preguiça”, de Paul Lafargue, e o “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade.
Obviamente, inclusive para se viabilizar, a Matraca ampliará sua frente de atuação, buscando alcançar públicos fora do campo progressista com temáticas mais amplas, de interesse geral, mas sem perder o caráter da editora. É o caso do livro-reportagem e da biografia. Mas nas áreas elencadas acima — como Filosofia e História, por exemplo — é possível produzir obras de amplo alcance.
1) Ampliar o acesso ao conteúdo dos livros (incluindo deficientes visuais ou pessoas com baixa visão). 2) Integrar a disputa progressista pela cultura, hoje hegemonizada pelo pensamento conservador. 3) Multiplicar oportunidades para trabalhadores(as) das artes do espetáculo (atrizes, atores, diretores/as teatrais, músicos) e do áudio (sonoplastas, locutores/as, editores/as). 4) Criar oportunidades para autores(as) que queiram escrever específica e diretamente audiolivros.
JOACI PEREIRA FURTADOO