O projeto ora proposto tem como premissa básica a defesa de uma Transição Energética Justa, ou seja, que contribua para reduzir a desigualdade social e para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, proporcionando bem-estar para todos, especialmente para as populações locais. Exatamente o contrário do que está acontecendo hoje no Semiárido brasileiro, onde estão concentrados mais de 80% dos investimentos em energia renovável do Brasil, num modelo concentrador de renda no topo da pirâmide e devastador do bioma Caatinga, da saúde e do modo de vida das populações tradicionais atingidas pelos grandes parques eólicos e fotovoltaicos já instalados aqui. A ideia é instalar miniusinas híbridas solar-eólicas em cada pequena propriedade familiar da região para garantir a geração de energia para autoconsumo e excedente comercializável que permita a amortização do financiamento no longo prazo e uma renda básica mensal para cada família beneficiária de, pelo menos, dois salários mínimos, o suficiente para garantir uma vida digna para todas as famílias alcançadas pelo projeto. Na outra ponta, do consumo, os moradores das áreas urbanas de cada município terão prioridade na aquisição das cotas comercializadas para compensação em suas contas de energia, com significativa redução dos custos desse item de consumo obrigatório. Uma vez criada a Cooperativa e instaladas as primeiras miniusinas, buscaremos financiamento junto ao BNDES e investidores privados para a ampliação e expansão do projeto para todos os municípios do Semiárido brasileiro. São 1.477 municípios, cujas principais características além do clima Semiárido, salvo raras exceções, são a ausência da industrialização, pobreza extrema, muita desigualdade social e baixíssimos índices de desenvolvimento socioeconômico, com os menores IDH’s do Brasil.
Em primeiro lugar, a redução da desigualdade social, nosso principal objetivo. Depois, uma efetiva contribuição para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, pois nesse modelo de negócio que propomos não há necessidade de desmatamento da Caatinga, já bastante devastada e, agora, mais ainda com a instalação dos grandes parques e das linhas de transmissão exigidas por este modelo. Na modalidade de Geração distribuída, a energia gerada é lançada na própria rede já existente e o Governo Federal, através do programa Luz para Todos, já instalou um poste em cada pequena propriedade da região. Os grandes parques de energia solar e eólica causam impactos ambientais e sociais negativos relevantes, em particular no Semiárido. O Relatório Anual do Desmatamento (RAD), divulgado pelo MapBiomas, revelou que, em 2022, mais de 4 mil hectares da Caatinga foram desmatados devido às atividades das usinas de energia solar e eólica, incluindo as linhas de transmissão. Os consumidores das sedes dos municípios também serão impactados positivamente, pois terão suas contas de luz barateadas. Além desses consumidores, aqueles dos grandes centros urbanos que venham a adquirir as cotas comercializadas para compensação em suas contas de luz também serão impactados positivamente com o projeto. Além dos impactos positivos listados acima, vale destacar que o projeto vai dar uma contribuição inestimável para o fim do êxodo rural que, infelizmente, ainda é muito presente em todo o Semiárido. Além do êxodo permanente, temos o êxodo sazonal, mais intenso e devastador. São milhares de trabalhadores jovens que migram todos os anos para o Centrosul em busca de um emprego, em fazendas, que garanta a sobrevivência da família, que fica aqui, o que tem criado um dos fenômenos mais cruéis do capitalismo brasileiro: o fenômeno das "viúvas de maridos vivos". Mulheres e crianças pequenas que ficam longe dos seus maridos e pais por, no mínimo, seis meses todos os anos. Além da significativa perda econômica para a região - afinal essa mão-de-obra vai gerar riqueza fora daqui -, muitas crianças não reconhecem os pais quando voltam e muitos casamentos são desfeitos também, causando ainda mais sofrimento para essas pessoas vitimadas pelo sistema. Só aqui, em São José da Tapera, são mais de 6.000 trabalhadores que migram todos os anos. Em resumo, o projeto, além de escalável, com forte apelo social e ambiental, trará benefícios não apenas para as famílias diretamente beneficiadas, mas para a população em geral, para a biodiversidade do bioma Caatinga, já bastante ameaçada, e para o Planeta.
José Arnaldo Lisboa Gomes